GIOVANA GIRARDI
O estudo com uma vacina experimental contra Aids que estava sendo considerado um dos mais promissores foi suspenso ontem por falhar em seus objetivos. A vacina não conseguiu impedir que os voluntários se contaminassem com o vírus HIV, nem limitar a severidade da doença.
O anúncio foi feito pela companhia farmacêutica Merck, que desenvolveu o produto e o estava testando desde o final 2005 em 3.000 voluntários sadios. Ao analisar o andamento do teste, a empresa percebeu que 24 entre 741 voluntários que receberam a vacina se infectaram ao se exporem posteriormente ao HIV. Número semelhante ao do grupo controle, que teve 21 infectados entre 762 participantes.
O trabalho estava em fase 2 e envolvia participantes de nove países, incluindo o Brasil. Metade tomava a vacina e metade, um placebo (substância inócua). Os voluntários foram escolhidos entre pessoas com alta vulnerabilidade, como homossexuais e prostitutas.
Ao ingressarem no trabalho, todos receberam orientações para evitar as situações de risco e aumentar a precaução, com o uso de camisinha. Nem todos, no entanto, seguiram a sugestão, como mostra o número de infectados.
"É uma notícia realmente decepcionante", afirmou Keith Gottesdiener, diretor do grupo de pesquisa da Merck para doenças infecciosas e vacina.
"A gente esperava que a vacina, se não fosse capaz de impedir a infecção, conseguiria conter o desenvolvimento do vírus, o que já seria muito bom. Mas o que se observou é que a multiplicação do HIV foi similar entre os que receberam a vacina e os que tomaram placebo", conta o infectologista Esper Kallás, da Unifesp, que coordenava a pesquisa no Brasil. O país contribuiu para o estudo com 125 voluntários -nenhum deles ficou doente no período.
O experimento com a vacina foi o primeiro grande teste de uma nova estratégia contra a Aids. Tentativas anteriores buscavam desenvolver uma vacina que estimulasse os anticorpos a lutarem contra o vírus. O projeto da Merck visava fazer com que o corpo incrementasse seu sistema imune, aumentando a produção das células-T.
Texto retirado da Folha de S.Paulo
22/09/2007